quarta-feira, 31 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2014



ESTÍMULO - 20-07-2014
                               Nazareno Lima

Estimulado pelos desatinos
Que tantas sombras me presentearam,
Inseguranças me representaram
Na trajetória destes meus destinos!

Todos aqueles que me ensinaram,
Velhos, adultos e até meninos,
Nada disseram sobre estes meus tinos
E as perguntas que me dominaram!

Hoje as incógnitas que me atordoam
E as Filosofias que me aperfeiçoam,
Me dirigiram para, em Deus, eu crer...

Mas a pergunta que me causa medos:
Por que as pessoas guardam tantos segredos?
É esta incógnita que me faz sofrer!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
* Neste poema, o poeta se refere aos 
preconceitos sofridos pelo seringueiro 
acreano ao longo de sua vida na cidade, 
onde por mais que se esforce para produzir 
algo perfeito é sempre reprovado pela 
sociedade em geral, sem explicar as causas 
principais dessas reprovações.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 1991


 MAUS LAMENTOS DE 91
                                Nazareno Lima

      - XXVI -
Mãe, a injustiça é o pior castigo
Que um pobre ser humano pode receber:
Eu vivo esta vida sem conseguir saber,
O mal que esta classe quer fazer comigo!
Eu já lutei pois, de todas as formas,
Mas, não me entrego para as suas normas
Pois encontram erro em tudo que digo!
Declarei guerra para esta gentalha
E meus Irmãos também, como canalhas,
Ainda vivem a me chamar de amigo!

     - XXVII -
Eu durmo por sob uma grande pilha
De problemas demasiados e absurdos:
Sou tal no Iraque, os povos Curdos,
Que para o mundo inteiro se humilha!
Quero esconder-me: não acho um quiosque,
Sou tal um coelho dentro de um bosque
Sendo perseguido por uma matilha!
Enquanto a traidora morte não vier,
Sinto a revolta que sentiu Voltaire,
Quando estava preso na Bastilha!
*********************

* O poeta Nazareno Lima expressa nestes
versos a situação repressiva em viviam os
seringueiros acreanos sem emprego,
sem casa para morar e sem apoio,  na cidade de
Rio Branco, capital do Acre em 1980.

domingo, 28 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Dr Juvenal Antunes - 1929


À LAURA II
Juvenal Antunes - 1929

Sim, Laura! Os poetas são bem esquisitos!
São compreendidos muito raramente...
Passam a vida assim como proscritos,
Mas, nenhum diz o que não sente!

Os homens são prosaicos, geralmente,
E dos poetas não ouvem os ais, nem gritos!
E a mulher, seja embora ainda inocente,
Bem pouco se lhe dá vê - los aflitos.

Mas tu, Laura adorada és talentosa!
Amas, a quem te ama, seja poeta ou não,
E, portanto, és tão grande e tão formosa!

E, como eu, nessa cruz dos teus amores,
Sabes qual o dever do coração?
Beijar as mágoas e abraçar as dores!

sábado, 27 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Dr Juvenal Antunes - 1929

À LAURA!
Juvenal Antunes - 1929

Laura! Não digas mais que és desgraçada,
Porque, se és desgraçada a culpa é minha!
És tão pura como a madrugada,
Tão inocente como uma andorinha!

Hoje, se por alguém és reprovada,
Se alguma criatura te amesquinha,
Continua serena em tua estrada,
E ninguém neste mundo te amesquinha!

Como arrojado cavaleiro andante,
Percorrerei até todo o universo,
Montado num moderno rocinante!

E a quem não te adorar nem fizer verso
Darei rápida morte fulminante,
Se houver alguém na terra tão perverso!

sexta-feira, 26 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Dr Juvenal Antunes - 1929

SONETO


Cumpro a promessa que lhe fiz... Vencendo
A indolência fatal que me consome,
Vou estes feios versos escrevendo,
Assim com cara de quem está com fome...

Porque não deixo, aqui, só o meu nome?
Nesta segunda quadra me metendo,
Antes que tinta novamente tome,
Com o diabo da preguiça estou me vendo!

Eis-me, enfim, no começo dos tercetos...
Se eu, um dia, encontrar esse malvado
Que inventou essa droga de sonetos,

Que D. Branca me consagre burro
Se eu não assassinar esse danado
Com uma facada, um ponta-pé, um murro!

        JUVENAL ANTUNES - Acre, 1929

quinta-feira, 25 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Dr Juvenal Antunes - 1917

AOS 32 ANOS


Entre as do mundo fúteis criaturas,
Já vivi muito mais de onze mil dias;
E, contando alegrias e amarguras,
Tive mais amarguras, que alegrias.

Engolfei em cismares e poesias,
Cantei, como poeta, as coisas puras,
Sem saber, coração, que recolhias
Desilusões passadas e futuras.

Hoje, cético estou. Bem tarde embora,
Vejo só ter razão quem geme e chora,
E quanta ideia vã nos enfeitiça...

De orgulhos e vaidades me desprendo;
E, como um simples verme, vou vivendo
Na calma, na indolência, na preguiça!

             Juvenal Antunes - 1917

POESIAS ACREANAS - Dr Juvenal Antunes - 1922

LÓGICA

Se amar é ser escravo e não altivo,
Alienar a vontade e o movimento,
Ter em céus e infernos, como vivo;

Se amar é bem mal tão exaustivo,
Que embora, fecha, cega o entendimento,
Se amar é padecer tal sofrimento,
Sem um remédio, sem um lenitivo,

Se amar é ver fugirem calma e sono,
Não saber explicar o que a alma sente,
Ambicionar aquilo que ambiciono,

Ter sempre alguém no coração presente,
Sentindo solidão, vácuo, abandono,
Então já sei que te amo ardentemente!

             Juvenal Antunes - 1922

quarta-feira, 24 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Juvenal Antunes - 1922

VULCÃO

Quem te conhece assim, simples, modesta,
De olhos baixos, discreta e recolhida,
Com esse Cândido porte, que te empresta
Um ar de melancolia compungida,

E ouve-te a voz tão sussurrante e mesta,
Como uma doce nota sustenida,
Fica a pensar que alguma dor te infesta,
Que alguma mágoa te consome a vida.

Toda a gente, entretanto, anda enganada;
És, entre as mil mulheres que eu conheço,
A mais ardente, a mais apaixonada...

Semelhas o vulcão, perfeitamente:
Por fora - pedra, argila, areia, gesso;
Por dentro - fogo, lava incandescente!

              Juvenal Antunes - 1922

¨POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2017


VI VISÃO - 2017
                                  Nazareno Lima
Giram em redemoinho os ventos fortes
Nos baixadões de areia, soterrados...
Onde passavam vapores carregados
Para suprir os povos seringueiros...
Nem Guarayos, Nordestinos ou Fazendeiros
Existirão nas terras dos Caucheiros,
Bolivianos, peruanos... Brasileiros
Sumiram tudo, enfim, pra nunca mais.
E reinará finalmente a grande Paz
Neste espaço de traições e muitas mortes!

Reinarão então sol e calor
E as "friagens", já há muito se alongaram...
Aqueles fungos também se exterminaram...
E as Lachesis deixaram de existir,
Assim se fez também ao Catuqui
E ao seu resistente protozoário,
O Anopheles também saiu do páreo,
Também assim se fez aos Triatomas
E outros poderosíssimos Genomas
Que causaram ao seringueiro tanta dor.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

segunda-feira, 22 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2000


OS  MUDOS   -   10/04/2000
                           Nazareno Lima

Eu tenho tanto à falar ao mundo,
Pena que ele não me dê ouvidos:
Sou dos anônimos que vivem escondidos,
A sustentar este pesar profundo!

Quantos tal eu estarão perdidos?
Vítimas do vil anonimato infundo,
Semelhante a um pobre vagabundo,
Na alheia dependência dos sentidos!

Talvez pior do que foi Canudos:
É triste esta multidão do mudos,
E não há quem conte este acervo...

E muitos morrerão emudecidos ...
E eu para não ser um dos vencidos ...
Já que não falo, ao menos escrevo!

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

* O poeta falava nesse texto do puro
 anonimato em que viveram os 
Seringueiros Acreanos, os quais nem 
a História vos conheceu direito. 
O poeta falava como um deles.

domingo, 21 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2014



ROTINA - abril de 2014
                         Nazareno Lima
Mas essa luta, tal uma diversão,
De supetão, desconexou-me:
Não sei ainda se Deus perdoou-me,
Mais vou pedir de todo o coração!

Ainda luto e lutarei enfim,
Neste motim de tantas ofensas...
Fé e Moral foram tão propensas
E todas as crenças se negaram a mim!

Mas minha luta continua forte,
E a cada dia muito mais ainda:
Se perguntarem quando a luta finda,
Talvez nem mesmo quando vir a morte!

Esta é a luta da pessoa humana,
Que a cada ser, uma lhe pertence:
O seu sucesso é quando a luta vence
Transpondo assim a confusão mundana!  
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
* O poeta se expressa na ideia de um
seringueiro e demonstra o quanto a
descriminação atingiu essa classe de
trabalhadores da Amazônia brasileira.

terça-feira, 16 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2014






  AGOSTOS - 30-08-2014
                   Nazareno Lima

    - VI -
Entre Agostos e desgostos, vejo
Malabarismos de mil saltimbancos,
Barbaridades de cem mil arrancos,
Contra as verdades que eu sempre almejo.

Na qualidade do sabor do beijo,
Quero pensar como os heróis brancos,
Impulsionado por mil solavancos,
Curar Minha alma desse grande aleijo!

E quando o último Jornal dos Oprimidos,
Listar a relação dos esquecidos
E nesse Rol figurar meu pobre nome...

Sairei do anonimato então proscrito
E soltarei na Floresta um grande grito:
Que um homem no Brasil venceu a fome!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

* O poeta fala com o sentimento do seringueiro
que depois de muitos anos habitando a cidade,
depois de passar muitas e muitas dificuldades e
descriminações... ainda sente a falta da vida na floresta.
A fome que o poeta se refere no poema não é a fome
de comida, é a fome de justiça, a fome de direitos,
a fome de respeito... e que o seringueiro jamais tiveras na cidade.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982


SOLILÓQUIO À MINHA MÃE - IV - 1982
             Nazareno Lima e Chico Mendes

Ó mãos humanas – Tentáculos de pedras
Que apertam a aceleração dos motores:
Matando vidas vegetais aos horrores
E não se cansam de ouvirem as quedas!

As vozes tristes ... As que ordenam
A ação de destruir de formas pretextas.
A bulimia maldita de todas as bestas
Pairam nestes seres que o natural condenam!

Queria, com meu pobre raciocínio ...
Que, de olhar, meu ego se consome:
Saber a vil razão desta atra fome
Destes ambiciosos do extermínio!

Responde-me ó Deus, porque tanto come
Esta sociedade devastadeira?
Ainda que destruas a floresta inteira,
A floresta inteira não lhes mata a fome!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

* No desespero da destruição da Floresta,
o poeta Nazareno Lima e o Ecologista
Chico Mendes escreveram esse poema que
tem a essência da tristeza e da injustiça do seringueiro.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2012



POEMA TRISTE - 05 /09/2012
                                Nazareno Lima
Descendo do povo triste
Que entristeceu a Floresta,
Hoje enfim nada mais resta
Deste povo entristecido...
Pelo Brasil, esquecido...
Sem história e sem lembranças,
Que viveu só de esperanças,
Apoiado em suas crenças,
Lutando contra as doenças
Sem Governo que o assiste!

Povo pobre desprezado,
Imigrante do sertão,
Seguidor da devoção,
Pela seca, castigado:
Talvez o mais explorado
Que a América já viu,
Foi quem mais contribuiu
Para enricar o País...
Mas a História não quis
Registrar esse passado!

Povo pobre e solitário
Extrator da Goma Elástica,
Viveu a vida mais drástica
Que no Brasil já brotou:
Pois em tudo lhes faltou
Exceto a esperança,
Onde a luta não lhe cansa,
Porém não lhe torna ilustre
Aonde a Febre Palustre
Foi o grande adversário!

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

* O poeta fala aqui pura e exclusivamente 
do homem da floresta do Acre. O seringueiro 
foi o profissional mais solitário das Américas e 
o mais explorado e sofrido do Brasil



POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima e Chico Mendes 1982


SOLILÓQUIO À MINHA MÃE - 1982
    Nazareno Lima e Chico Mendes

A inchação das cidades escorraça
A composição natural das simbioses...
Chama a miséria humana em altas vozes
E cria o ser moderno em ameaça!

Porém não nega a justiça, a Natureza:
Esta vetusta região que o exótico ataca:
Seus restos mortais; tanino ou laca,
Cobrará aos netos inimigos, com certeza!

Mãe! Eu porém sei que vais revidar,
Disso, até eu próprio sinto medo:
Antes que se intemperize um penedo,
Há de expulsá-los para não mais voltar!

Cara “peitica”, cale seu triste canto...
Após a “friagem”, o verão chega:
Deixai cantar os sapos chamando quem rega
A este futuro campo santo!!!

A vida hoje, Santa Mãe, é impetrar!
Os teus filhos não são trânsfuga...
Organizando a luta contra quem suga
Aquilo que jamais torna-se a encontrar!

Vejo a escara no tronco dos sobreviventes
Que, calados não reclamam desta sina:
Com o látice transformado em resina,
Esperam melhores dias para seus sucedentes!

Hei de pisar o caulin, um dia...
Entre as clareiras praticar a cinegética,
Ver a clorofila como a arte poética
E o Ar puro dar-me mais alegria!!!


* Aqui, o Poeta Nazareno Lima e o 
Ecologista Chico Mendes, nas periferias 
de Rio Branco - Acre, escondidos da perseguição 
da Ditadura Militar Brasileira e dos 
pistoleiros dos Fazendeiros escreviam esses 
versos para passar o tempo e se 
distraírem da saudade das Florestas Acreanas.