quarta-feira, 28 de junho de 2017

POESIAS ACREANAS - Dr Mário de Oliveira - 1943





ENCHENTE
Mário de Oliveira  - 1943

Faz pouco, o rio parecia um veio
D’água, humilde, a fluir calmo e cantante,
Modulando saudades, se bem creio,
Do recôndito berço já distante...

Agora, entanto, alçando o colo, cheio,
Outro parece, – bélico, arrogante,
Arrasando, sem dó, qualquer bloqueio,
Que à cavalgada infrene surja diante!

É belo, assim, na galopada louca,
Qual um corcel fogoso, espuma à boca,
Espumantes balseiros conduzindo!

Espraiando-se, túrgido, iracundo,
Parece até querer tragar o mundo,
– Castigo da Bíblia repetindo...


terça-feira, 27 de junho de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2002


MAIOS - 25-05-2002
           Nazareno Lima

                 - V -
Tal sobrevivo do viver espesso...
Vindo do berço das explorações:
Eu reconheço em muitos milhões
Os meus grilhões com o mesmo apreço!

Eu ofereço estas expressões...
Às intenções postas ao avesso:
As ilusões custam alto preço
E é o começo das desilusões!

O homem luta pelo que ele pensa...
Mas há de vir algo que lhe vença,
Neste sistema, sobre o qual, presumo...

Quanto mais luta nesta intenção,
Mais contribui para a exploração
Pois, tudo aqui segue o mesmo rumo!









* O poeta reclama da vida que teve
depois de sua floresta invadida.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982


 SOLILÓQUIO À MINHA MÃE
Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982

                  - III -
Ó Mãe! Tal qual causa pena um aborto,
O teu genocídio causa pena ...
Essa gente te olha tal como a hiena,
Ao aproximar-se de um animal morto!

Pisando esta terra úmida no agro ...
Vendo as covardias que te proveram ...
Nesta América pobre jamais fizeram:
Nem mesmo Pizzarro assassinando Almagro!

Mãe, para essa gente não existe Deus:
O vosso santo Pai Nosso é a hectare!
Não há violência que se lhe equipare:
Nem quando Hitler massacrou os judeus!

É grande minha tristeza, hoje... amanhã...
Minha ira irá pelos anos adiante:
Sentado neste tronco morto, sou semelhante
A “O Pensador” de Augusto Rodin!

Quando te olho... pôr isso ou pôr aquilo,
Te vejo a cada dia mais acabada...
Tua beleza, pôr demais arruinada;
Lembra-me vagamente a Vênus de Milo!
****************
* Os poetas falam como dois seringueiros
inteligentes assistindo a devastação de sua floresta.



domingo, 25 de junho de 2017

POESIAS ACREANAS - Dr Juvenal Antunes - 1926

CIÚME

Anda sempre a perseguir-me
O medo de que me enganes,
Dizes-me, Laura: “Sou firme!
Porque essa ideia não banes?”
Mas, basta que alguém, falando
De ti, me digas és bela,
Vai a alma o ciúme entrando,
Como um touro uma cancela...
Quisera que a vista alheia
Em ti nunca visse fita,
Que os outros te achassem feia,
Só eu te achasse bonita!

Nunca me causa inveja,
Nem me enche a boca d’água,
Se alguma vez diviso
Um terno par que se ama e que se beija.
Tudo na vida passa,
Ou ventura, ou desgraça...
Existe em cada mágoa
Um laivo de esperança;
E a gênese da dor mora e descansa
Dentro de cada riso.
                
                     Juvenal Antunes - 1926

POESIAS ACREANAS - Dr Juvenal Antunes - 1901

CATIVO

                Oiteiro, 16 -2-1901.

Todo esse amor, tão vivo e tão profundo,
A que me apega um lúgubre destino;
Faz-me descer ao desespero mais fundo,
Quanto seduz o teu perfil franzino!

Todo esse amor celestial, divino,
Que faz-me alheio, indiferente ao mundo,
Como ele é casto e puro e adamantino,
Que mata a dor e que o pesar confundo!

Basta que em mim o teu olhar retenhas,
Para que me libertes das ferrenhas
Garras cruéis da negra desventura!

Quando implorar os lábios num sorriso,
Abres–me a porta azul do paraíso,
Da sedutora e florida ventura!

                                   Juvenal Antunes

sábado, 24 de junho de 2017

POESIAS ACREANAS - Dr Juvenal Antunes - 1932



CARTA À LAURA

És os sentidos sem nenhum faltar:
Ouvir, ver, apalpar, cheirar, gostar!

Breve como o prazer que é um só momento
E longa como a dor e o sofrimento.

Cerva dos bosques, trêmula, assustada...
E um feroz caçador de arma apontada.

Tímida rola à beira do caminho,
Pedrinhas procurando com o biquinho.

És a um tempo dócil e berço e tumba
E pia batismal e catacumba!

Clareza e confusão, doçura e fel,
Língua esperanto e torre de babel.

És Laura, como o próprio coração.
A razão desconhece - te a razão!

Turris ebúrnea salis infirmorum,
Regina consolátris aflitorum.

És Golgotha e lauril. Rocha Tarpeia
E captólio...e idéia.

Abricó, abacate, cajarana,
Ubaia, ingá, maracujá, banana!

Tônico e estimulante, és agrião?
Coca, alfazema, anis, manjericão!

Teu corpo é saboroso como as uvas,
Com o gosto d´água das primeiras chuvas!
                                       
                 JUVENAL ANTUNES -1932
                                                              
                                        
                               

POESIAS ACREANAS - Dr Juvenal Antunes - 1914

BRINDE

                A Samuel Barreira

Firme, ereto, viril, na embalsamada mata,
Vê-se o altaneio roble as nuvens perfurando,
Os rudes furacões voa sobre ele passando,
Mas nada há que o amedronte e nem nada que o abata!

Também, na sociedade, o escol, a elite, a nata,
Compõe-se da que o ouvido às intrigas trancando,
Sabem, alto, zombar, calmos, filosofando,
Dos temporais da Inveja e da Calúnia ingrata.

Ergo o meu brinde, aqui, ao grande cidadão
Que, pela voz geral de virtuoso em que é tido,
Faz-me inclui-lo no escol da social comunhão.

Certo, ele gozará rara felicidade:
- A consciência de haver sempre o dever cumprido,
- a certeza, afinal, da própria dignidade.

Sena Madureira, 16 – 8 – 914 - JUVENAL ANTUNES

sexta-feira, 23 de junho de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima 2015





2015
29-12-2015
Nazareno Lima

2015 está querendo ir ...
Onde eu sofri, dores e mais dores!
Jamais esqueço o que passei aqui,
Porque vivi a cor de suas flores!

Não alegrou-me o som de seus tambores ...
Nem seus  atores ... me fizeram rir:
As destruições me causaram horrores
E a felicidade ... só fingiu de vir!

Mas, essas dores todas que me fazem
E todas as angústias que me comprazem
Ainda forçam-me a aprender mais ...

O descrédito que o Brasil mostrou-me,
E aquele leigo que  descriminou-me...
Nem a velhice já me tira a Paz!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
* O poeta fala como se fosse o desgostoso 
seringueiro que jamais se sentirá feliz depois 
da destruição de sua floresta. Depois de tanto 
tempo e a velhice chegando ele passa a se 
acostumar com a sua própria tristeza .





POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2016




O DESEJO DO MUNDO - 06-03-2016
                        Nazareno Lima

O Mundo me força a não ser triste
E falar de alegrias e de vitórias ...
Falar de amor e não de Histórias ...
E afirmar que a felicidade existe!

O Mundo me quer, falando em glórias
E do sucesso que o meu pensar assiste!
Eu quero que este Mundo me conquiste:
Transformando em Paz, minhas memórias!

Mundo - Eu quero ser como tu queres:
Falando de amor... e das mulheres...
De Paixão e de Felicidades...

Mas, é que o destino me criou assim:
Com injustiças e opressões sobre mim,
Nas florestas, nos campos e nas cidades!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
 * O poeta se expressa assim por causa das 
críticas recebida dos povos amazônicos por 
este poeta defender a classe dos seringueiros 
e demais povos da floresta. 
Ao longo do tempo, os povos que colonizaram a 
Amazônia foram sempre contra a floresta e seus povos.