sexta-feira, 31 de março de 2017

POSEIAS ACREANAS - Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982

SOLILÓQUIO À MINHA MÃE - 1982
              Nazareno Lima e Chico Mendes
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Muitas vezes com a dor no coração...
Vejo quem matou-me a grande fome:
Devorada pela máquina e a mão do homem
Sendo paga nesta triste profissão!

Os negros corpos em ruínas nas queimadas,
Mortos pelo fogo; não parece ser sério...
É tal ossadas humanas no cemitério,
Quando expostas para ser exumadas!

Não sente o homem, a dor no coração,
Quando com o ferro, da árvore fere a casca?
É impossível analisar esta grande vasca,
Que a mesma sente na sua destruição!

Perlustrando o cinério cinerário,
Lembro a cremação de humanos corpos
Que o fogo queima, depois de mortos,
Após a celebração de um funerário!

Estes seres, ó Mãe, não são ascetas;
Teu fim é transformar-se em hulha...
E eu, sem poder ouvir a arrulha...
Sinto a angústia de todos os poetas!

Dos nossos inimigos, vejo os liames;
Assim como das árvores, vejo a laca!
A caça é substituída pela vaca
E o capim substitui os enxames!

quinta-feira, 30 de março de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2003


IV VISÃO - 2003
           Nazareno Lima
             - III -
Ao passo que o tempo passa,
O mundo nos pressiona,
A produzir mais e mais
E estudar mais ainda ...
Mas a cultura que cresce
É esta do faz de contas,
Onde o saber nos afronta
E o errar nos acompanha ...

Legislativamente falando,
Não importa a qualidade,
É melhor a quantidade
E dizer que vai fazer ...
Tem que tentar convencer,
Dizendo que vai mudar
Mas, a mudança que há
É manter o Status quo !

A violência que cresce
Nas massas consumidoras,
Interessa as produtoras
E as Comunicações ...
Na melhor das intenções;
São promessas e mais nada
E a Justiça alquebrada
Fica à parte assistindo !

A miséria que progride,
Aos políticos interessa;
É uma forma expressa
De ganhar as eleições ...
É triste as situações;
Hoje até sindicalistas
Viraram capitalistas
Com propinas dos patrões !

Hoje aqui tem companheiro
Que largou o movimento,
Com forte apadrinhamento
Quer ser dono da verdade ...
Porém, a realidade
Dizer, ninguém se atreve
Onde a Justiça faz greve
Para ganhar mais dinheiro !

Hoje aqui tem jornalista
Com feição de Ser Sublime;
Rogando que haja um crime
Pra ser manchete do dia ...
No auge da anarquia
Remédios causam doenças,
Juízes vendem sentenças
Por achar que ganham pouco!

Tem Doutor que não trabalha,
Tem Médico que não atende,
Aluno que não aprende,
Professor que não ensina ...
Tem obra que não termina ...
Engenheiro improdutivo ...
Tem político depressivo
Que vive de atrapalhar !
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terça-feira, 28 de março de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 1992

Ecos Amazônicos  05- 09 - 1992
                          Nazareno Lima
Enquanto à noite um ‘canoeiro’ cantava...
Eu defumava sobre o ronco da fornalha
E triste cantava uma rasga- mortalha
Avisando que teu fim se aproximava !

O barulho dos morcegos voadores,
O canto coletivos dos ratões
E o canto cansativos dos corujões
Premonizavam os teus exterminadores !

Ainda à noite, gritava a ‘mãe- da- lua’
Junto ao misterioso ‘canauaru’ !
Pensando no amanhã gritava um uru,
Prevendo realmente a morte tua !

A poronga era soprada pelo vento...
As mariposas querendo apagá-la
E o macaco-da-noite não se cala
Predizendo tudo isto e eu desatento!

O cantar do bacurau no amanhecer,
O desajeitado vôo do caburé
E num lago esturrando um jacaré
Profetizavam o final do teu viver!

O bramir das onças me assombrava ...
O pio da ‘peitica’ me assustava ...
Uma cobra que chiando, coleava ...
Previam que tua morte já chegava!

A paisagem do tempo frio, era feia ...
Tal o som dos meus passos de covarde,
A noite chegava as 4:00h da tarde
E eu sem pensar em quem hoje te ateia!

O barulho dos ventos das friagens,
O ranger dos cipós nas árvores tortas
E um grilo à cantar nas folhas mortas
Premonizavam a maior das bandidagens!

O barulho mandibular das queixadas,
O assobio agudíssimo de uma anta
E o vôo da inhambu-preta que se espanta
Já previam teu futuro de queimadas!

domingo, 26 de março de 2017

POESIAS ACREANA - Nazareno Lima - 1993

ÄQUI - 12-12-1993
                Nazareno Lima
- II -
Herdei-te pois, esta triste ainda:
Meu fraco corpo sob ti, habita
Mas, minha alma tristemente aflita
S'tá na floresta habitando ainda !

Este teu castigo, enquanto não abranda
E nem o meu nome a tua boca chama:
Meu magro corpo por justiças clama
E minha alma triste entre vales anda!

Enquanto errada, contra mim se vingas:
Meu corpo frágil por tuas praças vaga
E minha alma alva enquanto não se apaga
Vive nas matas à cortar seringas !

Enquanto trair-me-á por anos vindouros,
Meu corpo trilha por teus sujos becos
E minha alma odiando estes matos secos,
Anda tristonha pelos varadouros !

Enquanto me exploras à cada vez mais,
Com tamanha mágoa, a qual me consome:
Meu pobre corpo vive à passar fome
E minha alma vaga pelos tabocais !

Enquanto negares os direitos meus
Com estas tuas leis ultra corrompidas:
Meu corpo anda à mendigar comidas
E minha alma vive à se lembrar de Deus !
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*O Poeta ainda continua falando
 pelo Seringueiro expulso