segunda-feira, 5 de março de 2018

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982


SOLILÓQUIO Á MINHA MÃE - Parte I
                            Nazareno Lima e ChicoMendes

Não sente o homem, a dor no coração,
Quando com o ferro, da árvore fere a casca?
É impossível analisar esta grande vasca,
Que sente a mesma na sua destruição!

Perlustrando o cinério cinerário,
Lembro a cremação de humanos corpos
Que o fogo queima, depois de mortos,
Após a celebração de um funerário!

Estes seres, ó Mãe, não são ascetas;
Teu fim é transformar-se em hulha...
E eu, sem poder ouvir a arrulha...
Sinto a angústia de todos os poetas!

Dos nossos inimigos, vejo os liames;
Assim como das árvores, vejo a laca!
A caça é substituída pela vaca
E o capim substitui os enxames!

Existem tantos mártires ó minha querida:
Cujos números ninguém até hoje sabe!
Estas causas no meu ego já não cabe...
Enquanto tudo vai perdendo a vida!

Todos temem esta razia ...
Rios, pássaros, árvores e serpentes;
Vítimas dos destruidores das sementes
Que ante a devastação não se cria!

Já cansei de ouvir as vozes do ludíbrio,
Desvalorizando nossa existência ...
Ignorando o valor de nossa essência
E ordenando destruir ao equilíbrio!

Ouço ao invés do rosnado, o trotar...
Vejo gramíneas no lugar de trepadeiras,
Imensas cercas que cruzam ribanceiras
E o mugido substituindo o silvar!

*O poeta Nazareno Lima e o ecologista Chico Mendes
escreveram este texto no auge da devastação das
florestas do Acre e da perseguição àqueles que
defendiam os seringueiros acreanos em 1982.
Apoiados pelo grande missionário Cláudio Avallone
e pelo intelectual Nilson Mourão além de outros
chamaram, aqueles críticos da grande invasão
às terras acreanas de Mãe a própria Floresta..

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