segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2005


05 DE SETEMBRO DE 2005
                         Nazareno Lima

Sinto tristezas... Sinto pena... E amar
É algo bom que já não sinto aqui
Pois, na Amazônia e neste Aquiry
A humanidade resolveu queimar!

E a Natureza sem atrapalhar,
Mandou uma sêca tal no Cariri:
Morreram árvores por demais, eu vi
E até mesmo o rio resolveu secar ...

Por que será que os homens reprimidos,
Não possuem tatos, olhos e e sentidos,
Para sentirem estas calamidades?

Eu só lamento perante a Ciência:
Quando estes seres tiverem consciência,
A Amazônia já será saudades!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - "Conceituações Espaciais" - 2005


                              - II -

Esses espaços que me foram caros
              Em tempos raros de pouco prazer ...
              Eles que viram todo o meu sofrer
              E talvez riram dos meus desamparos !!!

Essas Mangueiras do Tufic Assmar ...
              O Rio Acre trespassando a Ponte,
O Sol vermelho se pondo no Horizonte
E um fazendeiro pensando em queimar!

O Ponto de ônibus que cheirava mal ...
A Rua Acre de calçadas largas ...
Os Benjamins da Getúlio Vargas
E o Mauro Modesto no Bar Municipal!

As Casas Baptista de Jorge Lacocat...
A Praça dos Catraieiros... o Banco do Estado,
O Banco do Brasil em frente ao Mercado
E o “Raimundo do Correio” tirando o crachá!

O “Chefe” fechando seu loja pequena,
O Paulo falando do movimento fraco,
O João Germano cortando tabaco...
E o “Pastor” comprando gás no Milton Lucena!

O Cícero Moreira falando nas comadres...
O Jorge Cardoso com o cabelo comprido...
O Medeiro mostrando seu relógio Mido...
E a meninada saindo do Colégio dos Padres!

Época de estiagem; há dias não chovia:
A população aumentava a rotina ...
Um cartaz na frente da loja Grãfina
Anunciava ao povo o Artigo do Dia!

Se fosse humilde ou mesmo bacana,
O mercado atraía qualquer cidadão,
Também um baixinho de nome João,
Caixeiro das lojas A Pernambucana!

O Chico Dantas com seu táxi parado!
Descontentado com o calor do dia,
Alcides falava com Dona Alegria
Sobre o preço do rolo de arame farpado!

Defronte a praça o velho banco BASA
Vizinho do antigo D.O.V. finado,
Um seringueiro passando apressado
No pensamento de voltar para casa!

Esse Palácio de nome Rio Branco...
Hoje tão branco, parecia cinza,
O som do motor parecendo “guinza”
E o Zé Paulino sentado num banco.

A velha praça sem se quer, uma fruta:
A Casa Zeque ... O Quartel da Guarda ...
Passava uma moça de nome Eduarda
Indo ao grupo Presidente Dutra!

O Hotel Rio Branco de 2º andar,
No térreo o Bar, os bancos redondos,
Os ônibus fazendo barulhos hediondos...
As garçonetes não paravam de falar!

Osmath Duck , vestido num fraque.
Enquanto Abdala me cumprimentava,
Waldick Soriano bebia e fumava
Preparando-se pra um show no Cine Acre!

A LBA com a estrela na porta ...
A visão da ladeira da Maternidade ...
Os degraus da entrada da Universidade
E o barulho do Jeep do Raimundo da Horta!

Ao pensar nos problemas que alavanco,
Vejo a Prefeitura... O SBORBA... o Posto Sabbá..
O Meu Cantinho... o SERDA na Av. Ceará...
E um pouco adiante o Jornal O Rio Branco!

Sem pensar na dificuldade futura
E talvez mais estoico que Epiteto,
Eu, via Adauto Frota todo de preto,
              Indo da Universidade para a Prefeitura!

              A Rural do Bruzugú pegando no tranco...
              O Pranchão chamando uma mulher de lerda...
              O Pedro fumando na frente do SERDA
              E o Gibiri saindo do Jornal "O Rio Branco"!

               **********************

domingo, 28 de janeiro de 2018

POESIAS ACREANAS - Francis Mary - 2004

FILHA DA TERRA
Francis Mary
Eu nasci aqui,
No meio desse mato
Me criei.
Nadei no rio,
Bebi água dos igarapés...
Conheço todas as doenças
Dessa terra.
Conheço todos os ladrões,
Todos os exploradores
Conheço todos nós:
Filhos da miséria,
Irmãos da fome
E da esperança!

POESIAS ACREANAS - Francis Mary - 2004

ACREANO
Francis Mary
Abriu o peito prás balas
cantou mais uma canção
sem medo
sem ódio na alma
partiu e sumiu no rio
a bordo de um barco pesqueiro
no fundo era um seringueiro
que ia para o rio, pescar
chegou com a roupa molhada
chegou com os olhos brilhantes
e disse que no horizonte
alguém ia lhe esperar
correu descalço na praia
jogou sua vida na água
deixou o rio levar.

POESIAS ACREANAS - Océlio de Medeiros - 1971

CANTO DE NÚPCIAS
Océlio de Medeiros
Fui buscar nas constelações as mais lindas estrelas
para o meu manto de mago.
Fui buscar nas felpudas nuvens os macios chumaços
para fazer teu colchão.
Fui buscar no firmamento os retalhos mais azuis
para fazer teu lençol.
Fui ao fundo do mar buscar os mais suaves musgos
para o teu travesseiro.
Trouxe à superfície calma do oceano as ondas
para balançar teu sono.
Retirei da garganta dos uirapurus o canto
para eu te fazer dormir.
É da seda das brumas o teu véu de noiva, que eu
costurei com finos fio do luar desfeito.
Era da alva corola das orquídeas raras a tua grinalda
de pétalas que eu tirei sorrindo.
Por fim pedi à noite um pouco do seu escuro
para envolver a alcova de sutil penumbra.
Pedi ao tempo que parasse nesse instante
e o tempo parou,
parou,
parou,
até que amanheceu.
* * *
Eu sem meu manto de mago,
E tu despida de brumas,
Nós dois como crianças num colchão de nuvens,
num lençol de algas, nossas cabeças sonhando sobre
musgos.
E ambos despertamos para a vida!
Rio Branco, 1971

POESIAS ACREANAS - Océlio de Medeiros - 1974

O QUE RESTOU
Océlio de Medeiros
O nosso velho amor!... Que está restando agora
de mim, de ti? De mim, a bronzea enrijecida
apolínea figura que se foi na aurora
do teu ventre exraizada em nossa despedida?
O nosso velho amor!... Que está restando agora
de ti, de mim? De ti, a Vênus esculpida
em curvas de alabastro que eras tu outrora
e cuja carne é agora flor emurchecida?
O que restou de mim, de ti, – quando é sumida
a libido do corpo à arrefecente idade –
restou em ti e em mim, é o que restou da vida...
São cinzas, nada mais, do amor da mocidade,
e na nossa quaresma onde o passado é a ermida
o coração só tange os dobres da saudade...
Rio Branco, 1974