domingo, 10 de novembro de 2013

   Trechos de leitura do livro "A Boca do Varadouro" de Nazareno Lima

   e Organizado pelo Prof. Isaac Ronaltti do TJ-Acre.

 

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    - XXII -
Mãe, a nossa situação é o espelho
Da miséria do subdesenvolvimento(...)
Esse homem rude, rico e violento,
Eu assemelho-o a um escaravelho!
Enquanto os meus Irmãos se aliam
Com estes ricaços que nos espoliam,
A revolta me serve de Evangelho!
A minha derrota surgiu em Dezembro, 
Dia 22, eu ainda lembro:
Quando mataram o meu irmão mais velho!

      - XXIII -
Eu vivo a bater em portas fechadas
E nenhuma se abre para me atender:
Os políticos fogem para não me ver
E me atam às classes marginalizadas!
Implorando apoio de pobres bilhetes
Sou expulso calado dos gabinetes
Por lindas chefes semi-alfabetizadas!
Saio então assim... Por estas ruas tortas,
A lamuriar minhas esperanças mortas,
Rogando que surjam outra estradas!



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     - XXVII -
Eu durmo por sob uma grande pilha
De problemas demasiados e absurdos:
Sou tal no Iraque, os povos Curdos,
Que para o mundo inteiro se humilha!
Quero esconder-me: não acho um quiosque,
Sou tal um coelho dentro de um bosque
Sendo perseguido por uma matilha!
Enquanto a traidora morte não vier,
Sinto a revolta que sentiu Voltaire,
Quando estava preso na Bastilha!



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    -XLIV -
Mãe, minha vida hoje é uma insônia,
Ante as injustiças e violências!
De tanto implorar por meras clemências
Vivo padecendo de grande afonia!
Talvez quem sabe, Por eu ser do Acre...
Depois destes 20 anos de massacre,
Minha vida é uma vil acrimônia:
Eu já nem sei porque me chamam Nazareno
E nem porque te chamam de Amazônia!


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    - LV -
Inda perseguido pelo preconceito,
Que marginaliza as Classes Sociais;
Com conhecimentos de invejar rivais,
Me tolhem, meu povo, esse direito!
Apesar desse meu Cientificismo,
Vivo na Sociedade do Continuísmo,
Que persiste comigo neste vão pleito!
Talvez pôr ser filho das classes Marginais
Que içam a fome nos grandes seringais;
Daí a causa do meu defeito!

    - LVI -
Deste meu triste eco, o impulso,
Vem do desespero das Classes Dominadas;
Pelo insano Capital, violentadas
E trazem consigo o ideal convulso!
Esse infeliz grito atabalhoado
É a vil saída do homem explorado
E que traz na alma o pensamento avulso:
E é esse maldito eco desordenado...
A herança da exploração do passado...
O lamento do seringueiro expulso!

    - LVII -
Quando o homem cansar de explorar
A homens que nem eu sei a razão de ser:
Talvez assim então eu deixe de sofrer
Porém, vivo neste tempo não vou chegar!
É assim que vejo a minha condenação,
Enquanto a discórdia do meu irmão
Não sei se consigo ver se acabar!
Enquanto ó Mãe, disso tudo não fujo;
O meu poema é muito mais sujo
Que o "Poema Sujo" de Ferreira Gullar!

    - LVIII -
Não espero ó Mãe, que a elite note
A maldita fome que tenho de escrever!
Essa fome é a forma de me defender
Tal qual a cobra quando arma o bote!
É através desta escrita horrenda
Que consigo vazar minha dor estupenda,
Já que não me ouve, um desse magote!
Sem poder combater o que me consome,
Aumenta à cada dia a minha fome,
Tal qual a fome que dominou Cazotte!


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Um comentário:

  1. Este trecho de leitura do Poema "Maus Lamentos de 91" escrito em 1991 pelo Prof. Nazareno Lima é um dos vários poemas críticos do Prof. Nazareno escrito na época
    do auge da luta dos trabalhadores rurais e seringueiros do Acre, na década de 1980.
    Esse texto foi organizado pelo Prof. Isaac Ronaltti em 2008 e introduzido no livro "A Boca da Varadouro".

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