terça-feira, 14 de novembro de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima - 2002



        MAIOS – 20/05/2002
                  Nazareno Lima

               -I-  
Maio de flores... de tantas lembranças,
De esperanças... e poucos amores:
Entre crianças... entre mil horrores,
As minhas dores me atiram lanças!

Quando se fores entre mil nuanças,
Tais quais as danças de dez mil atores,
Essa pujança findará os olores
E as minhas dores farão alianças!

Maio de Deus... de Maria e Cristo!
À cada um que ainda assisto...
Vem-me à lembrança a interrogação:

Ano que vem, tem um outro à vir;
Será que ainda estarei vivo aqui,
Para sofrer nova punição ?

   -II-
O tempo passa lento e uniforme
E com um enorme poder de mudanças
Porém, não dormem as desesperanças
As quais me avançam vis e multiformes!

Desfaz o tempo, a tudo o que é enorme
Mas não desfaz a estas fortes tranças
Que a Natureza sobre mil lambanças
Permite à vida que pra mim se forme!

São estas tranças que tal mil chocalhos,
Me trazem à vida os mil atrapalhos
Que sofro e sofro e sofro sem parar...

E é nesses Maios que tal qual crianças
Ainda sinto algumas esperanças
Dessas horríveis tranças me livrar!


                    - III -
A minha vida é uma longa estrada...
Minha morada é o Universo!
Este excesso de descrença dada
É a caminhada do viver perverso!

No caos imersa e desacreditada
Pela empreitada do povo adverso,
Hoje confesso; minha vida atada
E desviada do social progresso!

Sou como um astro que caminha só...
Sou como um rastro que ficou no pó...
À esperar um reconhecimento!

Se ainda luto contra a obscuridade...
Parte de Deus esta caridade...
Pois, reconhece este meu talento!


                 -IV -
Na caminhada deste meu destino,
Só tenho Deus como companheiro
E há muito tempo desde eu menino,
A rejeição  foi meu mal primeiro!

Tendo o infortúnio como espreiteiro...
O conhecimento como um ser divino...
Tornei-me assim... um aventureiro
Contra este mundo que me fez mofino!

Tal o seguidor que jamais recua:
Enfrento a sorte, seja ela crua,
Na ansiedade de ver o amanhã...

E à esperar este amanhã, prossigo
Ora pôr esforço... ora pôr castigo...
Eu continuo nessa espera vã!


                 - V -
Tal sobrevivo do viver espesso...
Vindo do berço das explorações:
Eu reconheço em muitos milhões
Os meus grilhões com o mesmo apreço!

Eu ofereço estas expressões...
Às intenções postas ao avesso:
As ilusões custam alto preço
E é o começo das desilusões!

O homem luta pelo que ele pensa...
Mas há de vir algo que lhe vença,
Neste sistema, sobre o qual, presumo...

Quanto mais luta nesta intenção,
Mais contribui para a exploração
Pois, tudo aqui segue o mesmo rumo!


-VI -
Esta pobreza que nos desatina...
Nesta oficina da desigualdade
É a caridade da missão divina
Para quem domina a sociedade!

Que seja fina a vil ansiedade
Dessa verdade de quem trouxe a sina:
A equidade da função ferina
Que contamina nossa honestidade!

Esta pobreza que nos conceitua,
Que há tantos tempos sobre nós atua,
Alimentando a poderosa usura...

É inconformável pois, se conformar,
Mas, essas coisas há nos explorar,
É a Dialética da nossa cultura!

* O poeta revela aqui a pura situação 
de descriminação e sofrimento dos 
seringueiros expulso das florestas onde 
nasceram e viveram. Na cidade mesmo 
com estudo e qualidade técnica ainda 
sofriam descriminações.

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