MAIOS – 20/05/2002
Nazareno
Lima
-I-
Maio
de flores... de tantas lembranças,
De
esperanças... e poucos amores:
Entre
crianças... entre mil horrores,
As
minhas dores me atiram lanças!
Quando
se fores entre mil nuanças,
Tais
quais as danças de dez mil atores,
Essa
pujança findará os olores
E
as minhas dores farão alianças!
Maio
de Deus... de Maria e Cristo!
À
cada um que ainda assisto...
Vem-me
à lembrança a interrogação:
Ano
que vem, tem um outro à vir;
Será
que ainda estarei vivo aqui,
Para
sofrer nova punição ?
-II-
O
tempo passa lento e uniforme
E
com um enorme poder de mudanças
Porém,
não dormem as desesperanças
As
quais me avançam vis e multiformes!
Desfaz
o tempo, a tudo o que é enorme
Mas
não desfaz a estas fortes tranças
Que
a Natureza sobre mil lambanças
Permite
à vida que pra mim se forme!
São
estas tranças que tal mil chocalhos,
Me
trazem à vida os mil atrapalhos
Que
sofro e sofro e sofro sem parar...
E
é nesses Maios que tal qual crianças
Ainda
sinto algumas esperanças
Dessas
horríveis tranças me livrar!
- III -
A
minha vida é uma longa estrada...
Minha
morada é o Universo!
Este
excesso de descrença dada
É
a caminhada do viver perverso!
No
caos imersa e desacreditada
Pela
empreitada do povo adverso,
Hoje
confesso; minha vida atada
E
desviada do social progresso!
Sou
como um astro que caminha só...
Sou
como um rastro que ficou no pó...
À
esperar um reconhecimento!
Se
ainda luto contra a obscuridade...
Parte
de Deus esta caridade...
Pois,
reconhece este meu talento!
-IV -
Na
caminhada deste meu destino,
Só
tenho Deus como companheiro
E
há muito tempo desde eu menino,
A
rejeição foi meu mal primeiro!
Tendo
o infortúnio como espreiteiro...
O
conhecimento como um ser divino...
Tornei-me
assim... um aventureiro
Contra
este mundo que me fez mofino!
Tal
o seguidor que jamais recua:
Enfrento
a sorte, seja ela crua,
Na
ansiedade de ver o amanhã...
E
à esperar este amanhã, prossigo
Ora
pôr esforço... ora pôr castigo...
Eu
continuo nessa espera vã!
- V -
Tal
sobrevivo do viver espesso...
Vindo
do berço das explorações:
Eu
reconheço em muitos milhões
Os
meus grilhões com o mesmo apreço!
Eu
ofereço estas expressões...
Às
intenções postas ao avesso:
As
ilusões custam alto preço
E
é o começo das desilusões!
O
homem luta pelo que ele pensa...
Mas
há de vir algo que lhe vença,
Neste
sistema, sobre o qual, presumo...
Quanto
mais luta nesta intenção,
Mais
contribui para a exploração
Pois,
tudo aqui segue o mesmo rumo!
-VI -
Esta
pobreza que nos desatina...
Nesta
oficina da desigualdade
É
a caridade da missão divina
Para
quem domina a sociedade!
Que
seja fina a vil ansiedade
Dessa verdade de quem trouxe a sina:
A
equidade da função ferina
Que
contamina nossa honestidade!
Esta
pobreza que nos conceitua,
Que
há tantos tempos sobre nós atua,
Alimentando
a poderosa usura...
É
inconformável pois, se conformar,
Mas,
essas coisas há nos explorar,
É
a Dialética da nossa cultura!
* O poeta revela aqui a pura situação
de descriminação e sofrimento dos
seringueiros expulso das florestas onde
nasceram e viveram. Na cidade mesmo
com estudo e qualidade técnica ainda
sofriam descriminações.
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