quinta-feira, 3 de abril de 2014

A Enchente do Rio Madeira e o Isolamento do Acre - Nazareno Lima - 03-04-2014

O isolamento do Estado do Acre causado pelo alagamento do Rio Madeira e que causou o fechamento temporário da BR-364, é algo muito sério e que traz ao povo e também aos intelectuais acreanos um momento de poderosa reflexão.
Esse fenômeno, que até então todas as bocas disseram ser natural, ele é puramente administrativo.
Esse fenômeno, que envolve mais uma vez o maldito/centenário Rio Madeira, aquele que causou a morte de milhares de nordestinos, caboclos e índios na construção da E.F. M. M. em 1910 e que antes já havia causado inúmeros vexames dos exploradores amazônicos do século XIX, desde Willian Chandless em 1859, Urbano da Encarnação em 1861, A. D. Paiper em 1873 até Pereira Labre em 1888, além de tantos outros, à procura de uma ligação da Amazônia brasileira com a Bolívia evitando assim as cachoeiras do maldito Rio Madeira.
Quando o Presidente Lula projetou a construção das barragens que levaria a instalação das Usinas Hidrelétricas no maldito Rio Madeira no Estado de Rondônia, alertou aos Governos dos Estados do Acre, Amazonas e também de Rondônia, a construção das Hidrovias no próprio Rio Madeira e também no Rio Purus. O Presidente, talvez por ter grande conhecimento da problemática do Acre e seus vizinhos já imaginava que a construção daquelas barragens poderia causar transtornos e esses povos.
Acontece que os governos do Acre, Rondônia e Amazonas, não acreditaram na possibilidade desses transtornos e não se interessaram pelo projeto da construção das hidrovias.
Hoje, com o isolamento do Estado do Acre, a única saída é o transporte fluvial e sem um porto se quer no Rio Purus, no Rio Acre e no Rio Madeira para atracar as poderosas balsas que se arriscam em trazer os suprimentos para os povos do Acre que antes das estradas de rodagens, foi abastecido pelos vapores, tanto na importação de mercadorias como na exportação da borracha por mais de 90 anos.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

NOVO TEMPO - 2014 - Nazareno Lima




   ANDANÇAS – 19/02/2014
              Nazareno Lima


Andei por muitos lugares;
Olhei em muitos olhares,
Vi algo que não se diz ...
É a Razão que me faz crer;
Vi prazeres... Vi sofrer,
Mas não me senti feliz!

Fui descendo... Fui subindo ...
Vi mulheres que, fingindo
Enganavam multidões ...
Pela Fé que me guiava,
Em reflexos, eu me alertava
Pra fugir destes quinhões!

Vi mulheres revoltadas
Por amar sem ser amadas.
Vi Crianças à chorar...
Vi casais desentendidos,
Vi homens sendo traídos
Por não ter amor pra dar!

Vi idosos como Eu,
Lutando mais que Orfeu
Por uma esmola de amor...
Mas nas lutas só perdiam
E a traição que recebiam
Aumentava a sua dor!

Vi crianças rejeitadas,
Suas mães desesperadas,
Na idade prematura ...
Por não ter algo de novo,
A revolta desse povo
Já virando uma cultura!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

AQUI - 1993 - Nazareno Lima

                 - II -
Herdei-te pois, esta triste cinda:
Meu fraco corpo sob ti, habita
Mas, minha alma tristemente aflita
S'tá na floresta habitando ainda !

Este teu castigo, enquanto não abranda
E nem o meu nome a tua boca chama:
Meu magro corpo por justiças clama
E minh'alma triste entre vales anda!

Enquanto errada, contra mim se vingas:
Meu corpo frágil por tuas praças vaga
E minh'alma alva enquanto não se apaga
Vive nas matas à cortar seringas !

Enquanto trair-me-á por anos vindouros,
Meu corpo trilha por teus sujos becos
E minh'alma odiando estes matos secos,
Anda tristonha pelos varadouros !

Enquanto me exploras à cada vez mais,
Com tamanha mágoa, a qual me consome:
Meu pobre corpo vive à passar fome
E minh'alma vaga pelos tabocais !

Enquanto negares os direitos meus
Com estas tuas leis ultra-corrompidas:
Meu corpo anda à mendigar comidas
E minh'alma vive à se lembrar de Deus !


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

MAIOS - 20-05-2002 - Nazareno Lima


-VI -
Esta pobreza que nos desatina...
Nesta oficina da desigualdade
É a caridade da missão divina
Para quem domina a sociedade!

Que seja fina a vil ansiedade,
Dessa verdade de quem trouxe a sina:
A equidade da função ferina
Que contamina nossa honestidade!

Esta pobreza que nos conceitua,
Que há tantos tempos sobre nós atua,
Alimentando a poderosa usura...

É inconformável pois, se conformar,
Mas, essas cousas há nos explorar,
É a Dialética da nossa cultura!

A BOCA DO VARADOURO -2008 - Nazareno Lima - Org. Prof. Isaac Ronaltti





    05 de Setembro de 2003
    ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Grande tristeza me chegou agora
Pois, a melhora foi pura ilusão ...
A euforia do meu coração,
Foi utopia e já não mais vigora !

Tanta fumaça da floresta à fora ...
Fosse mentira pois, será traição ?
Ou talvez, quem sabe? Foi desatenção
Dos companheiros por multi - labora !

Tal a paisagem dos anos 80,
A minha classe deve estar atenta:
Eu só espero que ela então não finjas ...

Devo voltar aos meus antigos brados:
O genocídio dos anos passados
Ressuscitou de suas próprias cinzas !!!
          ************


     Os Anos Passados  -  25/11/2003
      ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Que me desculpem os anos passados
Que me ajudaram tanto a aprender...
Obrigando-me pois, a entender ...
As clarividências dos desesperados!

Que me desculpem os anos passados
Pela triste literatura do maldizer:
Quando só a injustiça vinha atender
A necessidade de nós, explorados!

Que me desculpem os anos passados
Por serem tanto bem interpretados
Por todas as bocas que mentiram ...

Mesmo ofuscado pelas minhas dores ...
Não consegui observar as flores
Que estes anos todos produziram !
          **********

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

NOVO TEMPO - Nazareno Lima - 2014


         A Sombra - 18/01/2014
         Para Franciete V. Silva
                 Nazareno Lima

Como uma Sombra eu te conhecia
Não percebia e nem podia crer
Que um certo dia, sem eu perceber
Me dominasse, por Telepatia!

Meu ser inerme, não se defendia
Só atraía um vil padecer:
Meu magro corpo a se estremecer
Convalescia da Hipotermia!

Mas essa Sombra que fingia Mau
Criava um efeito colateral,
Preparando minhas idoneidades ...

Amando enfim a essa Sombra-mulher,
Ganhei forças, coragem, paz e fé
E a mais completa das felicidades!
      ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

SOLILÓQUIO Á MINHA MÃE - Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982









⦁    VI –

Ao ver a orfandade futura, meu tino
Sofre um terrível susto ...
Tal aquele que sofreu Augusto
Quando escrevia “As Cismas do Destino”.

Tua derrota, ó Mãe, é tudo aquilo...
Onde não há forças que à abrande...
Te vejo como Alexandre, o grande
Tentando descobrir as nascentes do Nilo!

O seringueiro entrou em extinção ...
A seringueira também entrou:
Foi o capitalismo quem obrigou,
Esta destruição de irmão sobre irmão!

Tal o seringueiro amava o látex forte,
O sulista no Acre ama a grilagem
E tal qual a hévea odeia a friagem;
Tu foges sem poder, do poder da morte!

Quando as chuvas de Janeiro te encharcam,
Do teu duvidoso futuro não me lembro
E as flores das héveas no mes de Setembro,
São as poucas cousas que ainda me marcam!

Ó Mãe! Tal qual causa pena um aborto,
O teu genocídio causa pena ...
Essa gente te olha tal como a hiena,
Ao aproximar-se de um animal morto!