sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982

Tua derrota, ó Mãe, é tudo aquilo...
Onde não há forças que à abrande...
Te vejo como Alexandre, o grande
Tentando descobrir as nascentes do Nilo!
O seringueiro entrou em extinção ...
A seringueira também entrou:
Foi o capitalismo quem obrigou,
Esta destruição de irmão sobre irmão!
Teu passado brilhante eu não explico:
Pois, te vejo em profunda coma ...
Tu estás mais triste que a cidade de Roma
Quando caiu em poder de Alarico!
O que haveremos de fazer a esta raça
Que te disputam, tal o prêmio no jogo?
De todas as formas; a ferro e a fogo,
Estão te transformando em fumaça!
Tal qual a ferocidade dos cações
E o instinto destruidor de Nero:
Esta classe com objetivo severo
Ataca-nos sem pensar as razões!
Tal o seringueiro amava o látex forte,
O sulista no Acre ama a grilagem
E tal qual a hévea odeia a friagem;
Tu foges sem poder, do poder da morte!
Quando as chuvas de Janeiro te encharcam,
Do teu duvidoso futuro não me lembro
E as flores das héveas no mes de Setembro,
São as poucas cousas que ainda me marcam!
Ó Mãe! Tal qual causa pena um aborto,
O teu genocídio causa pena ...
Essa gente te olha tal como a hiena,
Ao aproximar-se de um animal morto!

(in "Solilóquio à Minha Mãe" -
Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982)

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