quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

POESIAS ACREANAS - Declínio - Nazareno Lima - 2001


D E C L Í N I O  - 17/08/2001
                           Nazareno Lima

                    - I -
Tal como d’antes, em 70, eu via ...
Minha ruína em um sol morrendo:
Sinto a velhice, hoje me abatendo,
Na mais completa e pura covardia!

Sinto a memória ir... enfraquecendo,
A versatilidade aos poucos se esvazia,
Já não possuo a mesma energia
Que me ajudou a viver aprendendo!

Nada me anima mesmo que me esforce,
Pois, isto tudo me chegou precoce,
Para extinguir o meu objetivo ...

Não é a Fome e nem a Depressão:
O que acaba a minha vibração
É o Contraste Social que vivo !!!

                   -II-
                         
É de chorar ... É de fugir da raia ...
É de cegar ... É de perder a calma.
É de odiar ... É de morrer de trauma ...
Compartilhar dessa eterna laia!

O erudito, que daqui não saia ...
Onde o grosseiro é que recebe palma!
Somente o rico pode aqui  ter alma
E a justiça ao justo pobre vaia!

Ninguém aprende, ninguém quer ensinar...
Ninguém produz e só pensam em ganhar...
E forma um povo pôr demais teimoso ...

O fanatismo voraz da ganância ...
A hereditariedade da ignorância ...
Formam assim o círculo vicioso !

⦁    III –

Mas isso tudo que ainda ufano,
Progride dentre esses apedeutistas
É uma herança dos Capitalistas,
Os quais agora chamam de engano!

Somado a vida de extrativistas,
Mais os costumes Aruaque e Pano,
Fez esse povo vir à cada ano,
Ser mais adepto dos Paternalistas!

Daí a fome de receber feito ...
Alguém terá que sempre dar um jeito ...
Em resolver sua situação ...

Pergunto agora  sem descriminar:
Quando esse povo vai se libertar
E competir na Globalização ?

              - IV -

De tudo isto que tenho falado,
Sinto tristezas... Sinto pena... Enfim,
Eu não queria falar disto assim ...
Com esse termo vil e debochado!

Eu preferia até ficar calado ...
Do que falar de quem assiste a mim.
À produzir este vil boletim,
Era melhor eu não ter poetado!

Foi assim que acostumei demais:
A só ver erros que o outro faz
E agir contra o que eu acho errado ...

Mas, quem sabe, um dia quando o inverso vir,
Não tendo história do que houve aqui ...
Meus versos falem sobre o mal passado ?

⦁    V –

Se perguntarem pôr que não parei ...
Digam que o tino não me fez parar:
Nasci de forma rude e elementar
E frente ao erro, eu calar não sei !

É esta a Cruz que sempre carreguei :
Gritar contra aquele que vive a errar!
É assim que tento na vida acertar,
Apesar de dizerem que eu sempre errei !

O erro de poucos, faz muitos sofrer ...
E muitos que sofrem, sofrem sem saber
Que esse fenômeno faz o mundo pior ...

Pôr isso é que o tino não me faz parar :
Se o homem procurasse sempre acertar,
Teríamos um mundo cada vez melhor !
    ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨             


* Nesse Poema o Prof. Nazareno Lima
interpretava um Seringueiro expulso de
suas terras pelos fazendeiros do Sul
brasileiro que expulsaram quase todos os
 seringueiros do vale do rio Acre na década de 1970.

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