segunda-feira, 26 de junho de 2017

POESIAS ACREANAS - Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982


 SOLILÓQUIO À MINHA MÃE
Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982

                  - III -
Ó Mãe! Tal qual causa pena um aborto,
O teu genocídio causa pena ...
Essa gente te olha tal como a hiena,
Ao aproximar-se de um animal morto!

Pisando esta terra úmida no agro ...
Vendo as covardias que te proveram ...
Nesta América pobre jamais fizeram:
Nem mesmo Pizzarro assassinando Almagro!

Mãe, para essa gente não existe Deus:
O vosso santo Pai Nosso é a hectare!
Não há violência que se lhe equipare:
Nem quando Hitler massacrou os judeus!

É grande minha tristeza, hoje... amanhã...
Minha ira irá pelos anos adiante:
Sentado neste tronco morto, sou semelhante
A “O Pensador” de Augusto Rodin!

Quando te olho... pôr isso ou pôr aquilo,
Te vejo a cada dia mais acabada...
Tua beleza, pôr demais arruinada;
Lembra-me vagamente a Vênus de Milo!
****************
* Os poetas falam como dois seringueiros
inteligentes assistindo a devastação de sua floresta.



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