segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

MAIOS - 20-05-2002 - Nazareno Lima

      


 MAIOS – 20/05/2002

                       Nazareno Lima
                          -I-  
Maio de flores... de tantas lembranças,
De esperanças... e poucos amores:
Entre crianças... entre mil horrores,
As minhas dores me atiram lanças!

Quando se fores entre mil nuanças,
Tais quais as danças de dez mil atores,
Estas pujanças finarão os olores
E as minhas dores farão alianças!

Maio de Deus... de Maria e Cristo!
À cada um que ainda assisto...
Vem-me à lembrança a interrogação:

Ano que vem, tem um outro à vir;
Será que ainda estarei vivo aqui,
Para sofrer nova punição ?

   -II-
O tempo passa lento e uniforme
E com um enorme poder de mudanças
Porém, não dormem as desesperanças
As quais me avançam vis e multiformes!

Desfaz o tempo, a tudo o que é enorme
Mas não desfaz a estas fortes tranças
Que a Natureza sobre mil lambanças
Permite à vida que pra mim se forme!

São estas tranças que tal mil chocalhos,
Me trazem à vida os mil atrapalhos
Que sofro e sofro e sofro sem parar...

E é nesses Maios que tal qual crianças
Ainda sinto algumas esperanças
Dessas horríveis tranças me livrar!


                    - III -
A minha vida é uma longa estrada...
Minha morada é o Universo!
Este excesso de descrença dada
É a caminhada do viver perverso!

No caos imersa e desacreditada
Pela empreitada do povo adverso,
Hoje confesso; minha vida atada
E desviada do socio-progresso!

Sou como um astro que caminha só...
Sou como um rastro que ficou no pó...
À esperar um reconhecimento!

Se ainda luto contra a obscuridade...
Parte de Deus esta caridade...
Pois, reconhece este meu talento!


                 -IV -
Na caminhada deste meu destino,
Só tenho Deus como companheiro
E há muito tempo desde eu menino,
A rejeição  foi meu mal primeiro!

Tendo o infortúnio como espreiteiro...
O conhecimento como um ser divino...
Tornei-me assim... um aventureiro
Contra este mundo que me fez mofino!

Tal o seguidor que jamais recua:
Enfrento a sorte, seja ela crua,
Na ansiedade de ver o amanhã...

E à esperar este amanhã, prossigo
Ora pôr esforço... ora pôr castigo...
Eu continuo nessa espera vã!


                 - V -
Tal sobrevivo do viver espesso...
Vindo do berço das explorações:
Eu reconheço em muitos milhões
Os meus grilhões com o mesmo apreço!

Eu ofereço estas expressões...
Às intenções postas ao avesso:
As ilusões custam alto preço
E é o começo das desilusões!

O homem luta pelo que ele pensa...
Mas há de vir algo que lhe vença,
Neste sistema, sobre o qual, presumo...

Quanto mais luta nesta intenção,
Mais contribui para a exploração
Pois, tudo aqui segue o mesmo rumo!


-VI -
Esta pobreza que nos desatina...
Nesta oficina da desigualdade
É a caridade da missão divina
Para quem domina a sociedade!

Que seja fina a vil ansiedade,
Dessa verdade de quem trouxe a sina:
A equidade da função ferina
Que contamina nossa honestidade!

Esta pobreza que nos conceitua,
Que há tantos tempos sobre nós atua,
Alimentando a poderosa usura...

É inconformável pois, se conformar,
Mas, essas coisas há nos explorar,
É a Dialética da nossa cultura!


                - VII-                        
Quem conviveu na maldita escória
E nessa mesma escória nasceu:
Trouxe consigo o gene de plebeu
E esse gene sempre na memória!

Seja ele crente pois, seja ele ateu,
Pagará a conta natural compulsória:
Será essa conta sua longa história
E essa história o esforço seu!

Carregará a máscara da complacência,
O disfarce e o viver de aparência
São os recursos que à ele encobre...

À luz de tudo que exemplifico:
Não existe pobre que se torne rico
E nem existe rico que se torne pobre!
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Um comentário:

  1. Aqui está grande parte do poema MAIOS, onde aparecem 7 sonetos. Este poema, um dos mais complexos escrito pelo Prof. Nazareno Lima em Maio de 2002 e também um dos poemas de maior dificuldade de entendimento por parte dos leitores amazônicos. Há neste poema uma relação entre a situação social do povo amazônico e a situação politica do Estado Brasileiro. A angustia do poeta que cita suas dores como exemplo das dores das demais pessoas desta Amazônia, como ele cita no inicio do soneto - V - . A poesia do Prof. Nazareno sempre está relacionada com o social e politico. É a poesia revolucionária, a poesia crítica que a Amazônia não conheceu ate agora.

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