quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

SOLILÓQUIO À MINHA MÃE - Nazareno Lima e Chico Mendes - 1982









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Nada neste mundo me acalma o tédio
Ao ver minha terra transformada em frágua;
Meus olhos secos se enchem de água
E para a minha angústia não há remédio!

Torna-se cansativo lutar sem vencer ...
Onde todas as lutas tornam-se ilegais...
O protesto à chacina dos vegetais,
Poucos são os que querem fazer!

Mãe! Tua existência provocas atraso;
Tu és uma causa do subdesenvolvimento,
Essa é a filosofia deste confinamento,
Que para tua extinção já marcou prazo!

Na caminhada de teu fim não há pausa,
Tal quem corre para imensos precipícios,
Nem as oposições políticas nos comícios,
Hoje ousam defender esta triste causa!

Talvez da vida, nos seja esta, a sorte
Que os grandes, guardaram o segredo,
Nem Teotônio e depois Tancredo,
Pra não defender-te preferiram a morte!

A técnica da farsa que hoje sujeita
Ao velho ficar novo com a mesma filosofia.
Queria ser adepto desta covardia
Porém, minha consciência não aceita!

A etognosia tocando nossos sentidos,
Vemos homens comprando a Democracia
E até este governo de ginecocracia,
Nega os direitos dos pobres sofridos!

Esta democracia que das matas veio ...
Dizendo ajudar a quem nas matas vive:
Foi a maior decepção que eu tive
Pois, é antagônica ao nosso meio!

Andando nas praças... olho para os lados
E sem querer ver, vejo atravessadores,
Comprando votos de outros eleitores,
Como se fossem mercadorias nos mercados!

Tal muitos eleitores são os eleitos
Comprados pela predominante plutocracia,
Para administrar uma mórbida burocracia,
Que contra a nossa causa não faz efeitos!

Mãe, aqui mudou tudo nos últimos anos...
Tal quando chega-se ao fim de repente:
A Natureza também ficou diferente,
Após a chegada destes seres humanos!

Estes exóticos que lhe oprime
Apoiados pelo poder do capitalismo;
Levados pela ambição e um fanatismo,
São frutos da conjuntura do atual regime!

Das épocas boas: somente há saudades
E dia após dia, tudo se dificulta.
Tal a injustiça quando nos insulta,
Na direção lógica das infelicidades!

Estes seres famintos de tal ferocidade...
Ao vê-los aqui, de ódio, estamos tontos.
Não sabemos pois, até quais pontos,
Existem a vossa humanalidade!

Mãe, para medir o mal não há medidas
E as medidas do bem são muito rasas:
Pôr que eles ainda queimam as nossas casas,
Como se nossas terras fossem pôr nós invadidas!

Esta terra nossa, que nossa já foi,
Conquistada pelo pobre nordestino!
Hoje o vil desenvolvimento sulino,
Considera um homem inferior a um boi!

Mãe, se a morte fosse salvação ...
Salvaria teus filhos, que aos poucos morrem:
Hoje, no caminho em que os mesmos correm
Amanhã estes matadores correrão?

Apavora-nos a palavra exportação!
Sobrevive dela, a economia brasileira:
Estão acabando a floresta inteira
E do imposto pago não há arrecadação!

Defender-lhe, para nós é a Carta Régia!
Pôr vossa defesa, soltamos esse berro!
Tristes pôr não empatar esta mão-de-ferro
Responsável pôr toda esta estratégia!

Chego a desejar que a ignorância
Caia de uma vez sobre mim ...
Para não poder ver estas causas assim
Pois, no meu ego não há concordância!

Pela funesta força medonha,
Eles vem politicamente representar
O povo pobre que vieram a expulsar
Da terra que cada um ainda sonha!

O valor do homem é a consciência:
Infeliz daquele que não acompanha
A modernização com sua artimanha
Pois, nossa luta já é vasta ciência!!!

Fazendo uma lógica assimilação,
Nossa está um tanto organizada!
Para os inimigos porém, somos nada
Pois, vossas farsas ultrapassou nossa ação!

Mãe, os tempos mudaram a Natureza:
Ficou pior o meio ambiente!
A malícia imposta pôr esta gente
Levou teus filhos além da pobreza!

Já sentimos as causas de tua ferida
A qual influenciou a luz solar!
Não pensamos na força que tinha o Dólar,
Que pudesse acabar com tua vida!

Não entendemos de onde veio tanto mal
Nesta violência que temos de sobra.
Do raciocínio humano, tal manobra
Repercutida de forma internacional!

Uns empatam... Uns falam... outros escrevem
A fins de ver seus lugares defendidos:
Ah, se pudéssemos ir aos Estados Unidos,
Para falar da culpa que eles também devem!

Hoje, para que o estranhe não nos mande,
Raciocinamos à nossa maneira,
Assim tanto como Fernando Gabeira,
Quando vivia nas prisões da Ilha Grande!

Mãe! O egoísmo faz dificultar a vida:
Para viver, cada homem é um guerreiro!
Vivo na cidade tal um exilado estrangeiro,
Condenado a nunca voltar a sua terra invadida!
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2 comentários:

  1. Este trecho de leitura é o Capítulo 10 do Poema "Solilóquio à Minha Mãe" de Nazareno Lima e Chico Mendes, escrito em 1982. Esse Poema completo está no Livro "A BOCA DO VARADOURO", escrito por Nazareno Lima - Organizado e Coordenado pelo Prof. Isaac Ronaltti do TJ-AC.

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  2. Este Poema retrata a vida dos Povos da Floresta do Acre quando foram expulsos de suas matas onde viviam, sendo obrigados na época, a passar os piores momentos de suas vidas nas cidades, onde não tinham profissões e nem tampouco habilidades para sobreviver na zona urbana. A maioria destas pessoas eram obrigadas a pedir ou roubarem para poder sobreviver nas cidades do Acre nas décadas de 1970 e 1980, principalmente em Rio Branco, capital do Estado do Acre, onde a maioria dessas pessoas se instalaram.

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